Como Surgiu a Umbanda: A Fé que Resistiu

 A Umbanda é muito mais do que uma religião. Ela é a expressão viva da resistência, da fé e da sabedoria dos povos africanos que foram trazidos para o Brasil de forma cruel e desumana. Tudo começou com os nossos irmãos africanos, arrancados de suas terras, famílias, tradições e deuses. Vieram nos porões dos navios negreiros, tratados como mercadorias, e aqui encontraram um mundo hostil, que lhes negava direitos, dignidade e liberdade.

Na África, esses povos já possuíam uma profunda ligação espiritual com a natureza e com o sagrado. Acreditavam em Zambi (Deus) e cultuavam os Orixás, entidades que representavam forças da natureza e princípios divinos. Mas, ao chegarem em solo brasileiro, não puderam mais cultuar livremente seus deuses. Eram obrigados a seguir a fé católica, única religião aceita pelos colonizadores e imposta pelos padres jesuítas.

Mesmo diante da repressão, os africanos não abandonaram sua fé. Pelo contrário, encontraram uma forma sábia e estratégica de manter suas crenças vivas: uniram os Orixás às imagens dos santos católicos, reconhecendo semelhanças simbólicas e espirituais entre eles. Por exemplo, Oxalá foi associado a Jesus Cristo, Iemanjá a Nossa Senhora da Conceição, Ogum a São Jorge, entre outros. Essa fusão religiosa ficou conhecida como sincretismo religioso.

Nas senzalas, reuniam-se em segredo para cantar, rezar e pedir forças aos seus guias e ancestrais. Ainda que os senhores de engenho não entendessem, aquelas celebrações eram muito mais do que devoção aos santos. Eram momentos de conexão com a ancestralidade, de cura, de esperança e de resistência espiritual.

Foi a partir dessa junção de elementos africanos, indígenas e católicos que nasceu a Umbanda, aqui mesmo no Brasil. Uma religião brasileira, que carrega em seu coração os ensinamentos de amor, caridade, respeito aos ancestrais e harmonia com as forças da natureza. A Umbanda é o grito de liberdade de um povo que se recusou a esquecer quem era, mesmo diante das correntes.

Hoje, a Umbanda segue viva, forte e acolhedora, sendo espaço de fé, cura e transformação para milhares de pessoas. Ela nos convida a olhar para nossas raízes, para nossa história, e a reconhecer a força que existe na união, na espiritualidade e no amor ao próximo.